Geografia

França

País da Europa ocidental, limitado ao norte pelo canal da Mancha, o estreito de Dover e o mar do Norte; a nordeste pela Bélgica, Luxemburgo e Alemanha; a leste pela Alemanha, Suíça e Itália; a sudeste pelo mar Mediterrâneo; ao sul pela Espanha; e a oeste pelo oceano Atlântico. Paris é a capital. A República da França compreende dez possessões de ultramar: Guiana Francesa, na América do Sul, Martinica e Guadalupe, no Caribe, Reunião, no oceano Índico, Saint-Pierre-et-Miquelon, Mayotte, Nova Caledônia, Polinésia Francesa, os Territórios do Sul e da Antártida e as ilhas Wallis e Futuna. A superfície total da França metropolitana é de 543.965 km2, incluindo a ilha da Córsega, no mar Mediterrâneo.

Território
Os principais traços fisiográficos da França são os que constituem suas fronteiras naturais orientais e meridionais, além de uma meseta central meridional e, contígua a ela, uma vasta região de planícies onduladas. Os Alpes e o Jura formam os limites naturais com a Itália e com a Suíça; as montanhas dos Vosges dominam a região entre o rio Mosel e o Reno; os Pirineus, que se situam ao longo da fronteira franco-espanhola, do mar Mediterrâneo até o golfo de Biscaia, formam a outra fronteira montanhosa.

A meseta central meridional, denominada Maciço Central, possui relevo e estrutura irregulares. A região das planícies, o setor mais extenso do território francês, consiste em terras baixas muito pouco onduladas, compostas pelos vales dos rios Sena, Loire e Garonne. Os principais afluentes do rio Sena são o Aude, o Marne, o Oise e o Yonne.

O clima é temperado, com consideráveis contrastes regionais. Uma das peculiaridades meteorológicas do sul da França é o vento mistral.

População e governo
A população (1994), era de 57.800.000 habitantes, com uma densidade de 106 hab/km2. As principais cidades (1990) são Paris (2.175.200 habitantes e 9.318.821 no total de sua área metropolitana), Marselha (878.689 habitantes), Lyon (418.476 habitantes), Toulouse (365.933 habitantes), Nice (342.439 habitantes), Estrasburgo (255.937 habitantes), Nantes (244.995 habitantes), Bordeaux (213.274 habitantes) e Montpellier (207.996 habitantes).

O catolicismo é a religião de 75% dos franceses. Seguem-no em importância o islã, o protestantismo e o judaísmo.

O idioma oficial é o francês, mas além dele perduram línguas regionais como o bretão, a língua basca, o catalão, o provençal, o flamenco e o alsaciano.

A França é uma República presidencial fundamentada na Constituição de 1958. O Parlamento consta de duas câmaras e a Assembléia Nacional possui a suprema autoridade legislativa. Ver também Literatura francesa.

Economia
Em 1994, o produto interno bruto foi de 1,30 trilhões de dólares, aproximadamente 22.580 dólares per capita. A unidade monetária é o franco.

Os principais cultivos são: videira, beterraba açucareira, trigo, batata, milho, cevada e frutas. O gado é também fonte chave de receita no setor agropecuário.

No tocante à silvicultura, as resinas, a terebintina e a cortiça têm producão destacada.

Possui ampla diversidade de recursos minerais. Os depósitos de mineral de ferro se encontram entre os mais ricos do mundo. São também importantes as produções de bauxita e carvão; existem pequenos depósitos de petróleo e de gás natural.

Entre as indústrias (excluindo os metais), destaca-se a fabricação de veículos a motor, aviões, aparelhos eletrodomésticos, maquinaria não elétrica, equipamento eletrônico e produtos químicos. A indústria têxtil e de fibras é uma das maiores do mundo; outras importantes indústrias são as transformadoras de alimentos, destilarias e produtoras de artigos especializados e de luxo.

História
As culturas mais antigas registradas são as do paleolítico (50000-8000 a.C.), que deixaram rica herança artística de pinturas rupestres, como as de Lascaux.

Os gregos, no século VII a.C., estabeleceram uma colônia em Marselha e negociaram com o interior através do vale do Ródano. No século V a.C. a cultura de La Tène se extendeu do leste da Gália a todo o resto do mundo celta.

Em 121 a.C., os romanos ocuparam Marselha, a que chamaram Massilia, e fundaram outros assentamentos no interior, que constituíram a base territorial da província romana da Gália Narbonense. Júlio César conquistou o resto da Gália entre 58 e 51 a.C., consolidando o poder romano.

Ao longo de todo o século IV da nossa era, pequenos grupos de germanos se haviam assentado na Gália por meio de pactos com as autoridades romanas. Em 406, este movimento se converteu em invasão quando os vândalos, os suevos e os alanos atravessaram a fronteira e se espalharam através da Gália. Em 412, os visigodos se estabeleceram no sul e em 440 os burgúndios na Gália oriental.

No último quarto do século V, quando diminuiu a autoridade imperial romana na parte ocidental do Império, os francos sálios conquistaram a Gália. Seu rei, Clodoveu I, ao converter-se ao cristianismo em 496, pôde consolidar seu domínio sobre o país.

A dinastia de Clodoveu, os merovíngios, governou até o ano 751. De acordo com o costume francês, todas as possessões do rei, inclusive o título real, se dividiam, com sua morte, entre seus filhos. Devido a esta prática, a França merovíngia se caracterizou por uma contínua desunião que culminou na guerra civil do século VI. No final do século VII, um mordomo do palácio, Pepino de Herstal, mostrando-se superior a seus rivais, estendeu com êxito sua autoridade sobre os ducados francos da Nêustria e da Borgonha. Em 751 Pepino o Breve depôs o último rei merovíngio e foi coroado rei dos francos.

A nova dinastia —posteriormente denominada carolíngia, por causa de seu membro mais destacado, Carlos Magno— se consolidou com a aliança estabelecida por Pepino com o Papado. Em troca da ajuda dos francos contra os lombardos, que estavam invadindo o território papal na Itália, o papa Estêvão II aprovou a pretensão ao trono dos carolíngios. Com a morte de Pepino (768), Carlos Magno se converteu em rei até o ano 800, quando foi coroado pelo papa Leão III com o título de Imperador dos Romanos.

Os ataques dos vikings e os problemas ocorridos após o reinado de seu filho Luís I o Piedoso significaram o início da decadência do Império carolíngio.

Luís decretou em 817 que seu filho mais velho, Lotário I, herdaria o Império e que seus tres filhos mais jovens, Pepino de Aquitânia, Luís II o Germânico e Carlos o Calvo, teriam reinos a ele subordinados. A divisão deu lugar a uma série de conflitos que só foram resolvidos em 843, com o Tratado de Verdun.

A desunião dos francos facilitou as incursões dos vikings que, em 911 e sob o comando de Rollon, obtiveram de Carlos III o Simples o território do curso inferior do Sena, que recebeu o nome de Normandia.

Com a morte de Luís V, último rei carolíngio, Hugo I Capeto iniciou a dinastia dos Capetos. Do ano 987 até 1328, a coroa foi transmitida sem interrupções na linha masculina direta.

Luís VI o Gordo consolidou o poder real na Île-de-France, região com centro em Paris, que era o feudo hereditário da família. Felipe II Augusto, por intermédio de seu primeiro matrimônio, conseguiu novos territórios no norte da França — Artois, Valois e Vermandois–. Também assegurou o controle real sobre Vexin, uma área pequena, porém vital, no rio Sena, por constituir a fronteira entre a Normandia e a Île-de-France.

Em 1204, Felipe empreendeu a conquista militar da Normandia e de Anjou. Dez anos depois, o monarca francês assegurou os territórios conquistados ao vencer uma coalizão formada por Inglaterra, Flandres e o Sacro Império Romano na batalha de Bouvines.

Luís VIII o Leão dirigiu uma campanha que terminou com a expansão do domínio real em direção à costa mediterrânea.

Felipe IV, que reinou entre 1285 e 1314, foi o último dos grandes reis Capetos e fortaleceu amplamente os poderes régios. O rei anexou com êxito o Franco Condado, Lyon e partes da Lorena, mas fracassou em seu objetivo de controlar Flandres.

A intervenção de Felipe IV em Flandres foi bastante onerosa, o que o levou a tentar gravar com impostos o clero, provocando agudo conflito com o papa Bonifácio VIII.

Entre 1314 e 1328, três filhos de Felipe IV — Luís X (e seu filho João I o Póstumo, que só viveu alguns meses), Felipe V e Carlos IV o Belo — subiram ao trono sucessivamente e todos morreram sem deixar nenhum herdeiro varão. Com a morte de Carlos IV, a coroa passou ao sobrinho de Felipe IV, Felipe de Valois, que reinou como Felipe VI de 1328 a 1350, começando a dinastia Valois. O rei inglês Eduardo III, em 1337, reivindicou a condição de herdeiro do trono francês, por ser neto de Felipe IV, e os dois reinos entraram em conflito, iniciando-se a guerra dos Cem Anos.

A segunda metade do século XIV foi um período marcado por várias manifestações de mal-estar social. Com uma economia deprimida, os custos da guerra continuaram a se avolumar. Durante este período os Estados Gerais, convocados pela primeira vez por Felipe V, conseguiram grande poder.

Durante o reinado de Carlos VI (1380-1422), o rei inglês Henrique V invadiu a França, derrotou o exército francês na batalha de Azincourt e tomou o controle da maior parte da França ao norte do Loire.

A revitalização francesa sob Carlos VII (reinou de 1422 a 1461) começou com a figura de Joana d’Arc. A guerra continuou por mais de 20 anos e em 1453 os ingleses tiveram que ceder todos os seus territórios continentais, com exceção de Calais.

Luís XI, que reinou de 1461 a 1483, consolidou a autoridade real, incorporou a maior parte do ducado de Borgonha a seu reino e utilizou as receitas reais para proteger, facilitar e estimular o desenvolvimento econômico.

Carlos VIII, rei de 1483 a 1498, casou-se com Ana, duquesa da Bretanha. Graças a esse casamento, o último principado feudal independente se incorporou à Coroa francesa.

No final do século XV, a França havia superado as divisões territoriais de seu passado feudal e virou uma monarquia nacional que incorporava a maioria dos territórios compreendidos entre os Pireneus e o canal da Mancha. Na metade do século seguinte, a paz interna e o crescimento da economia elevaram a posição social dos grandes comerciantes, dos banqueiros e dos cobradores de impostos, enquanto a nobreza, dependente de receitas fixas e com as dívidas em aumento, viu como a inflação ameaçava seu poder econômico e social.

Os três primeiros monarcas do período —Carlos VIII, Luís XII e Francisco I– aproveitaram o forte crescimento da nação e a estabilidade interna para reclamar pelas armas o reino de Nápoles e o ducado de Milão. Na década de 1520, as guerras italianas se converteram em ampla disputa entre a França e a dinastia dos Habsburgo, reinante na Espanha e na Áustria, um enfrentamento que continuou de forma intermitente durante um século e meio. As guerras italianas terminaram com a Paz de Cateau-Cambrésis (1559), negociada pelo filho de Francisco I, Henrique II.

O aumento da população, sem o correspondente aumento da produção, e a inflação monetária, levaram a maioria do povo à pobreza. A Reforma protestante, que se propagou a partir da Alemanha durante o reinado de Francisco I, havia atraído muitos seguidores; mas nas décadas de 1540 e 1550, os postulados e doutrinas de João Calvino conseguiram o apoio de muitos partidários entre a nobreza e o povo simples. Henrique II considerou o calvinismo uma ameaça à autoridade real e tentou acabar com ele. Sob o reinado dos três filhos que o sucederam, as guerras de religião (onde se misturaram conflitos religiosos, políticos e dinásticos) dilaceraram o país.

Em 1584 Henrique de Navarra, descendente de Luís IX e chefe dos huguenotes (nome que receberam os protestantes franceses), passou a ser o herdeiro do trono, ao qual ascendeu com o nome de Henrique IV da França, estabelecendo a dinastia dos Bourbon no trono francês.

Em 1598, Henrique IV tentou assegurar a paz interna em seus domínios mediante a promulgação do Edito de Nantes, que garantia a liberdade de consciência.

A Henrique sucedeu seu filho, Luís XIII. Em 1624, escolheu como primeiro ministro o cardeal Richelieu, que foi o governante efetivo da França durante os 18 anos seguintes. As principais metas de Richelieu consistiram em eliminar todos os rivais do poder real e conter as ameaças do estrangeiro.

Quando Richelieu se converteu no primeiro ministro do rei, a guerra dos Trinta Anos se encontrava em sua primeira década. Em 1635, Richelieu introduziu a França na guerra, como aliada dos protestantes suecos e holandeses contra os Habsburgo católicos. A Paz de Vestfália (1648) concedeu a maior parte da Alsácia ao reino da França e assegurou a contínua divisão e debilidade dos territórios alemães. Mediante a Paz dos Pirineus (1659), firmada com a Espanha, a França conseguiu Artois no norte e o Roussillon na fronteira espanhola.

Luís XIV governou inicialmente tendo como primeiro ministro o protegido de Richelieu, o cardeal Giulio Mazarino, que concluiu de forma vitoriosa a guerra com os Habsburgo e derrotou no interior o primeiro esforço coordenado da aristocracia e da burguesia para alterar a concentração de poder nas mãos do rei realizada por Richelieu. Em 1648, o Parlamento de Paris e os burgueses da cidade, unidos, protestaram contra os elevados impostos e, com o apoio dos artesãos, provocaram uma rebelião contra a Coroa, denominada A Fronda.

Com a morte do cardeal Mazarino em 1661, Luís XIV governou a França pessoalmente e se instituiu como modelo do monarca absolutista que governava por direito divino. O monarca era o representante de Deus na terra e a obediência do clero proporcionou-lhe a justificação teológica de seu direito divino. Um movimento dissidente, o jansenismo, que se desenvolveu no século XVII, passou a constituir ameaça política, razão pela qual Luís XIV lutou contra ele desde seus primórdios.

O ministro das Finanças, Jean-Baptiste Colbert, foi o grande expoente da era do mercantilismo. Antes de finalizar o reinado, no entanto, as despesas de guerra haviam arruinado a maior parte do trabalho de Colbert no âmbito econômico. Em 1685, Luís XIV revogou o Edito de Nantes, o que fez com que a maioria dos huguenotes abandonassem a França, provocando grandes perdas econômicas.

Carlos II, rei da Espanha, não tinha herdeiro direto, o que o levou a nomear para sucedê-lo o neto de Luís XIV, Felipe de Anjou. Os outros Estados europeus temeram as conseqüências do grande aumento de poder dos Bourbon e se uniram em coalizão para evitá-lo. A guerra da sucessão espanhola durou treze exaustivos anos. No final, Luís conseguiu seu principal objetivo e seu neto se converteu em rei da Espanha com o nome de Felipe V.

Luís XIV morreu em 1715 e foi sucedido por Luís XV. Tanto a ele como a seu sucessor, Luís XVI, faltava a habilidade necessária para adaptar as instituições nacionais às condições mutáveis do século XVIII. Não obstante, foi uma das épocas mais importantes da história do país. A França era a nação mais rica e poderosa do continente. O século se caracterizou por um extraordinário crescimento econômico e desenvolvimento cultural (ver Século das Luzes).

A nobreza conduziu nos parlamentos (tribunais) das províncias a oposição às iniciativas reais, reivindicando que os decretos reais fossem submetidos à aprovação parlamentar, com o objetivo de controlar o governo.

A oposição da classe intelectual à monarquia foi conduzida pelos filósofos, que sustentavam que toda a população tinha certos direitos naturais—vida, liberdade e propriedade— e que os governos existiam para garantir esses direitos. Estas idéias foram especialmente apreciadas pela burguesia, que havia aumentado em número, riqueza e ambição e ansiava estender sua destacada posição socioeconômica ao âmbito político, participando das decisões do governo. Através da burguesia, as idéias penetraram as camadas inferiores da sociedade e chegaram a formar parte da cultura popular antes da revolução.

Os problemas financeiros do governo se acentuaram depois de 1740 pela retomada dos confrontos bélicos. A guerra de sucessão austríaca (1740-1748) e a guerra dos Sete Anos (1756-1763) foram conflitos europeus nos quais se decidia a hegemonia na Europa central e nas colônias. A França perdeu seu vasto império colonial na América e na Índia. Em 1778, os franceses intervieram na guerra da independência norte-americana, apoiando a rebelião dos colonos para, dessa forma, debilitar a Grã-Bretanha e recuperar as colônias perdidas. No entanto, as esperanças francesas não se cconcretizaram, apesar do êxito dos insurgentes, e sua participação na guerra incrementou a já crescente e onerosa dívida nacional.

A responsabilidade de enfrentar a crise financeira recaiu sobre o jovem e indeciso Luís XVI. Depois de os parlamentos provinciais bloquearem todos os programas de reforma apresentados pelos ministros e improvisarem uma Assembléia de Notáveis em 1788, Luís obrigou o Parlamento de Paris a aceitar os editos reais que privavam os parlamentares de seus poderes políticos. Juízes, nobres e clérigos resistiram e tentaram evitar a aplicação do decreto real; conseguiram o apoio do exército e de uma população afetada por altos índices de desemprego e pelo preço do pão. Em julho, a assembléia de uma das províncias meridionais votou pela anulação da cobrança de impostos até que o rei convocasse uma sessão dos Estados Gerais, inativos desde 1615. Luís concordou em reunir os Estados Gerais em maio de 1789. A aristocracia havia triunfado na primeira etapa da Revolução Francesa, a qual terminou com a eleição de uma nova assembléia constituinte, a Convenção Nacional, estabelecida por sufrágio universal masculino, que em 1792 criou a I República francesa.

A Convenção permitiu que o poder executivo se concentrasse no Comitê de Salvação Pública. Este, dominado pela facção radical jacobina, inaugurou o denominado regime do Terror, para eliminar os inimigos da Revolução. O Rei foi julgado e executado em janeiro de 1793.

Em 1794, produziu-se uma reação contra o regime jacobino, que foi eliminado após um golpe de Estado. No ano seguinte, a Convenção Nacional adotou uma Constituição que previa um regime republicano constituído por um Diretório, que exercia o poder executivo, e um poder legislativo dividido em duas câmaras eleitas indiretamente.

O Diretório governou a França durante quatro anos difíceis, devido às convulsões causadas pela revolução e a guerra contínua. No interior, o Diretório era ameaçado à direita pelos monarquistas, desejosos de restaurar a monarquia, e à esquerda pelos jacobinos, determinados a estabelecer uma república democrática. O general Napoleão Bonaparte conduziu um golpe de Estado em 1799 e, junto com seus seguidores, destituiu o Diretório e estabeleceu o Consulado.

Napoleão nomeou-se chefe de Estado. A nova Constituição estabelecia os poderes essenciais do cargo que ele assumia, o de Primeiro Cônsul. Pôs-se à frente de um exército que penetrou na Itália e enviou outro ao sul da Alemanha, e suas vitórias obrigaram a Áustria a firmar a paz em 1801. A Grã-Bretanha, sem aliados e sem comércio com uma Europa cada vez mais dominada pela França, acordou firmar a Paz de Amiens (1802), que acabou com as hostilidades entre os dois países.

A legislação reunida no Código de Napoleão confirmou as principais vitórias obtidas pela Revolução, como a abolição dos privilégios feudais, a igualdade perante a lei e a liberdade de consciência.

Napoleão estabeleceu em 1804 o Império Francês e se coroou imperador. Isto confirmou suas ambições de extender-se além dos limites da França dos Bourbon e, em 1805, reiniciaram-se as guerras napoleônicas. Em pouco tempo, se converteu em dono da maior parte da Europa. Mas a própria extensão de suas conquistas fazia difícil manté-las.

Depois da definitiva derrota do Império em 1815, na batalha de Waterloo, restaurou-se a monarquia na figura de Luís XVIII, irmão do rei decapitado.

Luís XVIII garantiu o cumprimento de uma Constituição, a Carta de 1814, que estabelecia uma monarquia parlamentar e reformas sociais expressadas nos códigos de leis napoleônicos. O regime era representativo, mas não democrático.

Os anos de governo dos moderados levaram, após o assassinato do duque de Berry, herdeiro do trono, em 1820, ao governo dos ultra-realistas com a coroação de seu máximo expoente em 1824, com o nome de Carlos X.

Em 1830 promulgou uma série de decretos para convocar novas eleições, reduzir o número de votantes e restringir a liberdade de imprensa. Isto conduziu a uma série de protestos e Carlos X, abandonado por todos exceto por uma minoria de monarquistas, abdicou. Os deputados ofereceram o trono a Luís Felipe, duque de Orléans, pertencente a um ramo da família dos Bourbon. Revisaram a Constituição para eliminar o poder legislativo do rei e ampliaram, moderadamente, o sufrágio.

A Monarquia de Julho, denominação que recebeu o regime de Luís Felipe, foi dominada pelos acomodados proprietários de terra e alguns homens de negócios e banqueiros, transformando-se em benfeitora da grande burguesia.

A rigidez do governo e a séria depressão econômica de 1846 e 1847 solaparam a base do regime e fizeram com que se propusesse um novo regime republicano como alternativa. Luís Felipe abdicou em 1848. Formou-se um governo provisório e proclamou-se a II República Francesa.

A Constituição da II República, promulgada em 1848, estabelecia um regime presidencialista e unicameral, no qual tanto o presidente da República como a Assembléia eram escolhidos por sufrágio universal masculino. Luís Napoleão Bonaparte foi eleito presidente por maioria, enquanto as eleições parlamentares deram a vitória aos monarquistas, contrários à República. Luís Napoleão tomou o poder com um golpe de Estado em 1851 e um ano depois restaurou o Império e assumiu o nome de Napoleão III.

As conquistas de Luís Napoleão em política interna não condizem com seus fracassos no exterior. A vitória sobre a Rússia na guerra da Criméia (1853-1856) teve como contrapartida o fracasso da tentativa de impedir a ascensão da Prússia e do projeto de conseguir para a França compensações que fizessem frente ao aumento de território e de poder prussiano. Ver Guerra Franco-prussiana.

Depois da derrota a Assembléia Nacional, estabelecida para poder firmar um tratado de paz, teve que resistir a um grave conflito interno. Os republicanos radicais de Paris se rebelaram e instauraram um governo municipal independente, a Comuna de Paris, em 1871.

A maioria monarquista da Assembléia Nacional tentou restaurar a monarquia, mas não conseguiu resolver as diferenças entre os pretendentes dos Bourbon e dos Orléans ao trono, razão pela qual os republicanos conseguiram a aprovação de uma Constituição republicana em 1875.

Após a Guerra Franco-prussiana, a segurança nacional foi uma preocupação constante. Seguindo as previsões de Bismarck, o governo francês orientou seus objetivos para a expansão ultramarina e estabeleceu um império colonial na África e na Ásia, o segundo em extensão depois do Império Britânico. Em 1894, a França e a Rússia firmaram uma aliança defensiva que estabelecia ajuda mútua contra ataques alemães ou austro-húngaros. Uma década mais tarde, o temor comum, a Alemanha, estimulou a França e a Grã-Bretanha a resolver suas diferenças coloniais e a iniciar negociações para unificar suas operações militares e navais na Europa. Em 1907, a Grã-Bretanha e a Rússia também haviam resolvido suas diferenças e, junto com a França, formaram a Tríplice Entente, como resposta à Tríplice Aliança, integrada pela Alemanha, Áustria-Hungria e Itália.

O assassinato do herdeiro do trono austro-húngaro pelos nacionalistas sérvios em 1914 precipitou uma nova crise. Os interesses franceses não estavam implicados diretamente na disputa balcânica entre a Áustria-Hungria e a Rússia, mas o governo respaldou seu aliado russo. A Alemanha, apoiando a Áustria-Hungria, declarou guerra à Rússia e, após a negativa francesa de permanecer neutra, declarou guerra à França. Ver I Guerra Mundial.

Em 1918, a unificação das forças aliadas, a entrada dos Estados Unidos na guerra e o esgotamento da maquinaria de guerra alemã permitiram aos aliados desenvolver uma ofensiva que obrigou o governo alemão a pedir a paz. Em 11 de novembro de 1918, a recém estabelecida República de Weimar, na Alemanha, aceitou o armistício e firmou-se a paz no Tratado de Versalhes.

O problema interno mais agudo depois da guerra foi a estabilização do franco. A desvalorização prejudicou duramente a burguesia, que havia sido núcleo de apoio social à República e que dependia de suas economias. Os últimos anos da década de 1920 e os primeiros de 1930 significaram um breve interlúdio de prosperidade e calma, que terminaram com a chegada à Europa dos efeitos da Grande Depressão e com o ressurgimento, depois de 1933, de uma Alemanha agressiva.

Ao longo das décadas de 1920 e 1930, a segurança nacional continuou sendo a principal preocupação do governo. A Grã-Bretanha e os Estados Unidos não ofereceram garantias de evitar o rearmamento alemão, razão pela qual a França tentou conseguir certa segurança estabelecendo alianças com a Bélgica e com os estados da Europa oriental que poderiam ameaçar a Alemanha com uma guerra de duas frentes, caso a França fosse atacada. Adolf Hitler ascendeu ao poder na Alemanha em 1933 e começou o processo de rearmamento. Em setembro de 1939, a Alemanha invadiu a Polônia, e a França e a Grã-Bretanha declararam-lhe guerra, o que deu início à II Guerra Mundial.

Terminada a guerra, o Comitê Francês de Libertação Nacional transformou-se em governo provisório da República francesa. Charles de Gaulle dominou o governo durante os 15 meses seguintes, mas cedeu seu cargo em 1946, quando a recém eleita Assembléia Constituinte se mostrou em desacordo com seus pontos de vista sobre a necessidade de um regime presidencialista unicameral.

A IV República foi instituída após a promulgação de uma nova Constituição no final de 1946. As grandes conquistas do regime foram a reforma social e o desenvolvimento econômico. Em 1957, a França uniu-se a outros cinco países europeus ocidentais para fundar a Comunidade Econômica Européia.

Os problemas coloniais (a perda da Indochina e a guerra de independência da Argélia) acabaram com a IV República. Em 1958, a Assembléia Nacional outorgou a De Gaulle plenos poderes para governar o país durante seis meses e para redigir a Constituição da V República, aprovada por referendum popular.

Sob a nova Constituição francesa, as colônias conseguiram autonomia de governo dentro da Comunidade Francesa, mas os nacionalistas de cada enclave colonial ansiavam conseguir a independência e em 1960 revisou-se a Constituição, para permitir a separação amistosa da França das antigas colônias.

Os acontecimentos do Maio francês, ocorridos em 1968, desembocaram na demissão de De Gaulle, em 1969. Nas eleições, Georges Pompidou foi escolhido presidente da República.

O falecimento de Pompidou aconteceu repentinamente em 1974. Ganhou as eleições o candidato dos republicanos independentes, Valéry Giscard d’Estaing.

Em 1981, após a vitória socialista nas urnas, François Mitterrand substituiu Giscard como presidente da República. O governo nacionalizou a maioria dos bancos e das firmas industriais, elevou os impostos e ampliou os benefícios sociais. Em 1982 e 1983, uma recessão econômica fez com que o governo impusesse medidas de austeridade. Como conseqüência, em 1986 Mitterrand teve que conviver com Jacques Chirac como primeiro ministro. Esta foi a primeira vez desde 1958 em que partidos opostos governaram juntos, no denominado governo de coabitação. Depois de várias mudanças de governo, as eleições presidenciais de 1995 levaram Jacques Chirac à presidência da República, ao mesmo tempo em que o socialista Alain Juppé assumia a chefia do governo.

INFORMAÇÕES GERAIS

Nome oficial
République Française
(República Francesa)

Capital
Paris

Bandeira
As cores vermelha, branca e azul da bandeira francesa datam de 1789, quando Luís XVI incorporou o vermelho e o azul da cidade de Paris ao branco do escudo Casa de Bourbon, a família real governante na França. A bandeira tricolor foi oficialmente adotada pela Convenção Nacional em 1794.

Hino
“La Marseillaise”
(“A Marselhesa”)

Fontes:
Book of World Flags
National Anthems of the World

TERRITÓRIO
Superfície
543.965 km2

Ponto culminante
Mont Blanc
4.807 m
acima do nível do mar

Ponto mais baixo
Lac de Cazaux et de Sanguinet
3 m abaixo do nível do mar

CLIMA
Temperaturas médias

Paris
Janeiro 4 °C
Julho 20 °C

Lyon
Janeiro 2 °C
Julho 21 °C

Precipitações médias anuais
Paris
620 mm

Lyon
810 mm

Fontes:
Europa World Year Book 1995
Statesman’s Year-Book 1995-96
Websters Geographical Dictionary

POPULAÇÃO
População
57.800.000 hab
(segundo estimativas de 1994)

Densidade demográfica
106 hab/km2
(segundo estimativas de 1994)
Distribuição da população
74% Urbana
26% Rural

Principais cidades
Paris 2.175.200 hab

Marselha 878.689 hab

Lyon 418.476 hab
(1990)

Principais áreas metropolitanas

Paris 9.318.821 hab

Lyon 1.262.223 hab
Marselha 1.230.936 hab
(1990)
Línguas
Língua oficial
Francês
Outras línguas
línguas faladas em algumas regiões, como alsaciano, bretão, basco, catalão e provençal

Religiões
75% Católicos
25% Outros

incluindo protestantes, judeus e muçulmanos

Fontes:
Britannica 1995
Europa World Year Book 1995
Statesman’s Year-Book 1995-96
World Almanac and Book of Facts 1996

ECONOMIA
Produto Interno Bruto
1.329.000.000.000 dólares norte-americanos
(1994)

Principais produtos econômicos
Agricultura
Trigo, beterraba, milho, cevada, batatas, gado, derivados do leite, vinho

Pesca
Ostras, atum, pescadinha

Mineração
Carvão e ferro

Indústria
Produtos alimentícios, equipamento para transportes, produtos químicos, maquinaria elétrica e não-elétrica, metais e seus derivados, têxteis e roupas
População economicamente ativa (por setores)
56% Comércio e serviços
28% Indústria
10% Negócios e finanças
6% Agricultura, silvicultura e pesca

Principais exportações
Maquinaria e equipamento para transportes, produtos manufaturados básicos, alimentos e bebidas alcoólicas, produtos químicos, aço e outros metais

Principais importações
Maquinaria e equipamento para transportes, produtos químicos, produtos básicos manufaturados, produtos manufaturados, produtos alimentícios

Principais parceiros comerciais
Alemanha, Itália, Bélgica e Luxemburgo, Reino Unido, Estados Unidos, Espanha, Países Baixos

Moeda
Franco francês
Fontes:
EIU reports
Europa World Year Book 1995
International Financial Statistics Abril 1996
Statesman’s Year-Book 1995-96

GOVERNO
Forma de governo

República presidencialista

Chefe de Estado

Presidente

Mandato de sete anos (eleito por sufrágio universal direto)

Chefe de governo

Primeiro-ministro

Nomeado pelo presidente

Poder legislativo

Sistema bicameral

Assembléia Nacional

577 deputados

Senado

321 senadores

Sufrágio

Sufrágio universal para todos os cidadãos maiores de 18 anos

Poder judiciário

Tribunal de Cassação

Forças Armadas

Exército, Marinha, Aeronáutica

409.000 soldados; serviço militar obrigatório, de 10 meses, para todos os homens entre 18 e 35 anos de idade

Divisões administrativas

22 regiões organizadas em 96 departamentos

EDUCAÇÃO
Principais universidades e escolas técnicas superiores

Universidade de Paris

Paris

Universidade de Aix-Marselha

Aix e Marselha

Universidade de Estrasburgo

Estrasburgo

Universidade de Lyon

Lyon

Fontes:
Europa World Year Book 1995
Keesing’s Record of World Events
Political Handbook of the World 1995-96
The Military Balance 1995-96
World of Learning

DATAS IMPORTANTES

51 a.C.
Julio César consolidou o poder romano na Gália.

732 d.C.
Carlos Martel, rei dos francos, deteve o avanço dos muçulmanos em direção à Europa, depois de vencê-los na batalha de Poitiers.

800
Coroação de Carlos Magno como imperador dos romanos. Depois de sua morte, 814, o Império Carolíngio seria dividido.

1309-1377
A corte papal se transferiu para Avignon.

1453
A França derrotou definitivamente a Inglaterra, pondo fim à guerra dos Cem Anos.

1643-1715
Reinado de Luís XIV, durante o qual se consolidou o absolutismo real.

1789-1799
Revolução Francesa, durante a qual foi abolida a monarquia e que deu origem a uma série de guerras contra as principais potências européias nas quais a França se veria envolvida até 1815.

1804
Napoleão Bonaparte, que exercia o poder desde 1799, se proclamou imperador dos franceses com o nome de Napoleão I em Paris.

1814
Derrota de Napoleão e restauração da monarquia. Um ano depois, Napoleão recuperou o poder, mas foi definitivamente vencido na batalha de Waterloo.

1848
Revolução que culminou com a proclamação da II República.

1852
Napoleão III criou o II Império.

1870-1871
Derrota da França na Guerra Franco-prussiana, que pôs fim ao II Império. Criação da III República.

1914-1918
A França lutou, junto com os aliados, contra os Impérios Centrais durante a I Guerra Mundial. Muitos combates ocorreram na frente aberta no território francês.

1940
A Alemanha invadiu a França e ocupou dois terços do território do país durante a II Guerra Mundial (1939-1945). Na zona não-ocupada, o marechal Henri Philippe Petain liderou um governo pró-alemão.

1946
No final da II Guerra Mundial, foi promulgada uma nova Constituição, pela qual era criada a IV República.

1957
A França se tornou um dos membros fundadores da Comunidade Econômica Européia.

1958
Charles de Gaulle, convocado pelo governo para liderar um gabinete em caráter de emergência em conseqüência da guerra de Independência argelina, foi eleito presidente da V República, instituída depois da promulgação de uma nova Constituição.

1962
A França aceitou a independência de Argélia depois de uma longa e cruel guerra com sua antiga colônia.

1968
As manifestações e greves de operários e estudantes levaram De Gaulle a renunciar em 1969.

1981
Triunfo eleitoral do Partido Socialista liderado por François Mitterrand, que viria a ser reeleito como presidente da República em 1988 para um novo mandato de sete anos.

1993
O governo socialista, envolvido em vários escândalos, foi derrotado nas eleições gerais por uma coalizão de partidos conservadores. Edouard Balladur tornou-se o primeiro-ministro.

1994
Inauguração do túnel sob o canal da Mancha unindo a França e a Grã- Bretanha.

1995
François Mitterrand, que não se candidatou para as eleições presidenciais ao final do seu segundo mandato, foi sucedido pelo líder de Agrupação Para a República (RPR), Jacques Chirac. O governo francês suscitou uma oposição generalizada depois de sua decisão de realizar testes nucleares no oceano Pacífico.