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Os poemas mais famosos de Cora Coralina

Cora Coralina é uma das autoras brasileiras mais conceituadas da literatura moderna, porém suas obras começaram a ganhar maior apelo popular nas últimas décadas. Os poemas mais famosos de Cora Coralina nos remetem às ocasiões do cotidiano em versos mais soltos, com estética do Modernismo.

Os poemas mais famosos de Cora Coralina foram publicados tardiamente, depois que a poeta e contista já tinha mais de 75 anos de idade. Batalhadora, a intelectual brasileira viria a retratar em sua obra as sutilezas do singelo cotidiano corriqueiro, da vida pacata e da gente simples.

Ela mesma, que vivia da venda de doces, chegou a escrever um poema com versos que traduzem a alma do doceiro, no poema “Quem é Cora Coralina?”.

Veja quais são os poemas mais famosos de Cora Coralina!

Saber Viver

Não sei…

se a vida é curta

ou longa demais para nós.

Mas sei que nada do que vivemos

tem sentido,

se não tocarmos o coração das pessoas.

Muitas vezes basta ser:

colo que acolhe,

braço que envolve,

palavra que conforta,

silêncio que respeita,

alegria que contagia,

lágrima que corre,

olhar que sacia,

amor que promove.

E isso não é coisa de outro mundo:

é o que dá sentido à vida.

É o que faz com que ela

não seja nem curta,

nem longa demais,

mas que seja intensa,

verdadeira e pura…

enquanto durar.

Este é um poema que trata de como a vida é importante, principalmente quando temos um encontro verdadeiro com o outro. Além disso, mostra que precisamos prestar mais atenção nas pessoas, parar para ver, escutar, enxergar e estar vivo com mais alguém. É para aproveitar a companhia “enquanto dura”.

Becos de Goiás

Becos da minha terra…

Amo tua paisagem triste, ausente e suja.

Teu ar sombrio. Tua velha umidade andrajosa.

Teu lodo negro, esverdeado, escorregadio.

E a réstia de sol que ao meio-dia desce fugidia,

e semeias polmes dourados no teu lixo pobre,

calçando de ouro a sandália velha, jogada no monturo.

Amo a prantina silenciosa do teu fio de água,

Descendo de quintais escusos sem pressa,

e se sumindo depressa na brecha de um velho cano.

Amo a avenca delicada que renasce

Na frincha de teus muros empenados,

e a plantinha desvalida de caule mole

que se defende, viceja e floresce

no agasalho de tua sombra úmida e calada

Este é um dos poemas mais famosos de Cora Coralina, que mostra sua ligação com sua terra e a natureza específica da região, como sol, lodo, umidade e vitalidade. É um texto carregado nos detalhes, que fala das características de sua terra. A abordagem também mostra que, para sobreviver e florescer ali, é preciso perseverar!

Mulher da Vida

Mulher da Vida,

Minha irmã.

De todos os tempos.

De todos os povos.

De todas as latitudes.

Ela vem do fundo imemorial das idades

e carrega a carga pesada

dos mais torpes sinônimos,

apelidos e ápodos:

Mulher da zona,

Mulher da rua,

Mulher perdida,

Mulher à toa.

Mulher da vida,

Minha irmã.

Este poema faz uma alusão às prostitutas, chamadas de mulheres de vida, uma expressão popular. A intenção deste, que é um dos poemas mais famosos de Cora Coralina, é dar atenção para o ser humano, sem criar um preconceito sobre uma “mulher da vida”.

O poema acolhe, mostra empatia, aproximação e um olhar acolhedor para a “minha irmã, mulher da vida”, nas palavras de Cora Coralina – uma das pioneiras da sororidade – o apoio à mulher por ser mulher, pois viver na batalha de doceira, para a autora, era tão desafiador como ser uma mulher largada à sorte da vida, a ponto de se tornar uma prostituta para ter o pão de cada dia. É o sinal de absoluto respeito, principalmente pelo fato de o eu-lírico ser mulher.