Geografia

Vegetação do Brasil

O conceito de sistemas ambientais é recente e ganha destaque após a realização da ECO-92. De acordo com os geógrafos, a nova classificação é mais abrangente que a utilizada para definir os ecossistemas. Ela leva em consideração os aspectos biológicos e físicos (clima, relevo, vegetação ) de uma determinada formação, suas características humanas e sócio-econômicas e também as relações que se estabelecem entre a natureza e o homem. Acompanha, assim, o conceito de desenvolvimento sustentável, que inclui na temática ecológica os princípios humanos e sociais. Segundo essa nova conceituação, os sistemas ambientais brasileiros podem ser divididos em oito grandes grupos: a floresta Amazônica , a mata Atlântica, a caatinga, o cerrado, o pantanal mato-grossense, os campos, os pinheirais e as zonas litorâneas.

Floresta Amazônica

É a maior floresta tropical do mundo, com uma área aproximada de 5,5 milhões de km², dos quais 60% estão no norte do território brasileiro, nos estados do Acre, do Amazonas, do Pará, de Mato Grosso e do Maranhão. Sujeitas ao clima equatorial , extremamente úmido e com chuvas abundantes, suas matas se dividem em três tipos principais: o igapó, cujo símbolo é a vitória-régia; a várzea, rica em seringueiras, jatobás e palmeiras; e a mata de terra firme, onde as árvores alcançam até 60 m de altura. A floresta é vista como a maior reserva de diversidade biológica do planeta. Das 100 mil espécies de plantas existentes em toda a América Latina, 30 mil estão na região. A fauna também é muito rica, com destaque para tucanos, araras, cutias, pacas, beija-flores, esquilos e diversas espécies de répteis, anfíbios e insetos. A Amazônia abriga ainda a maior bacia hidrográfica do mundo, com extensão aproximada de 6 milhões de km². Hoje, a floresta registra uma perda de 13,31% de sua área original, em virtude da exploração econômica predatória das frentes de expansão agrícola e das madeireiras.Com o ciclo da borracha , no século XIX, a região viveu um surto de desenvolvimento urbano e modernização. Vivem ali, hoje, 17 milhões de pessoas, concentradas essencialmente nas grandes capitais – Belém (PA) e Manaus (AM). O extrativismo é uma importante atividade econômica para as comunidades locais de índios, seringueiros e ribeirinhos, que dependem dos seus recursos naturais. Atualmente, alguns estados têm investido também no ecoturismo

Desmatamento da Amazônia

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A floresta Amazônica continua a ser uma das maiores do planeta. Atualmente, só a Federação Russa e o Canadá, no hemisfério norte, além do Congo, na África, possuem grandes extensões de matas primárias semelhantes. Quanto à biodiversidade, não há floresta no mundo comparável a ela. Com uma flora riquíssima – mais de 30 mil espécies de plantas -, que inclui um terço de toda a madeira tropical disponível no mundo, a Amazônia brasileira já perdeu 13,31% da mata original, o equivalente ao território da França. De acordo com relatório da ONG Amigos da Terra e do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), os estados do Pará, de Mato Grosso e de Rondônia lideram o ranking de desmatamento para extração de madeira. Os três estados compõem também a principal frente de colonização agrícola do país. A devastação repete um ciclo bem conhecido no Brasil. Os fazendeiros e colonos derrubam a floresta para plantar pastagens, vendendo as árvores cortadas às madeireiras. Estas, especialmente as que trabalham na clandestinidade, atuam como parceiras no processo de destruição, ao viabilizar o desmatamento nas propriedades rurais, embora também ajam isoladamente em várias áreas da floresta. Conforme estimativas do Ibama, órgão do governo brasileiro responsável por aplicar a política de preservação do meio ambiente, elas foram responsáveis pela abertura de mais de 3 mil km de estradas ilegais, nos últimos anos, só no sul do Pará. Ainda segundo o Ibama, atuam na região mais de 2 mil madeireiras, das quais 27 multinacionais, a maioria de origem asiática. O Greenpeace afirma que a atuação das madeireiras cresceu 25% na Amazônia em 1999, em virtude da desvalorização do real e da recuperação das economias do Sudeste Asiático. A ONG revela também que apenas 30% da madeira ilegal extraída na região consegue ser apreendida pelos fiscais do Ibama. Os levantamentos feitos pelo Inpe por meio de satélites mostram que, entre 1994 e 1995, foram desmatados na Amazônia 29 mil km²; em 1995/1996, esse índice cai para 18 mil km², atingindo 13 mil km² entre 1996 e 1997. No período seguinte (1997/1998), ele volta a subir, atingindo 17 mil km², e, segundo estimativas do instituto, deve manter-se estável entre 1998 e 1999. De acordo com o Inpe, o pico de desmatamento verificado em 1994/1995 pode ser explicado principalmente pela falta de fiscalização. Depois dele, as pressões das ONGs, inclusive internacionais, fizeram com que os números caíssem e se estabilizassem. Para o Inpe, no entanto, o ideal seria que esse número regredisse até os 12 mil km²/ano. No entanto, um estudo feito pelo Instituto de Pesquisas Ambientais da Amazônia (Ipam) e pelo Centro de Pesquisas Woods Hole (EUA) e divulgado em abril de 1999 mostra que esse índice de desmatamento pode ser ainda maior. De acordo com essa pesquisa, outros 10 a 15 mil km² da floresta são atingidos a cada ano, sem que possam ser detectados pelos satélites. A área desmatada na região, assim, poderia ser duas vezes maior do que apontam os números do Inpe. Segundo o Ipam, os dados do governo consideram apenas os chamados cortes rasos – que não deixam nenhuma árvore em pé -, não levando em conta as queimadas e a exploração seletiva da madeira. Outro levantamento feito pelo Inpe revela que cerca de 15% das áreas exploradas pelas madeireiras se integram depois ao sistema produtivo, sendo ocupadas por atividades agropecuárias, muitas vezes também ilegais. Além disso, em torno de 70% da área desmatada entre 1991 e 1996 encontra-se em locais próximos às estradas. Ela coincide justamente com os eixos do desenvolvimento abertos pelo Programa de Integração Nacional, ainda na época do regime militar, que continuam a ser explorados até hoje. Os projetos do governo federal para o assentamento de colonos efetuados nos últimos 30 anos ocuparam 261 mil km² da Amazônia Legal. Somados aos 60 mil km² loteados pelos programas de colonização dos estados amazônicos no mesmo período, chega-se a um total de 321 mil km² já desmatados. Diante das graves ameaças à floresta, o Ministério de Política Fundiária baixa, em outubro de 1999, uma portaria que proíbe a desapropriação de terras para fins de reforma agrária em locais de mata primária. Entretanto, a Amazônia ainda corre o risco de perder parte da vegetação para a cultura da soja, que nos últimos anos se tem difundido na região. Detentores de grande poder econômico, os plantadores de soja compram áreas já desmatadas, ocupadas atualmente por pastagens e outras culturas, para manter o ritmo de expansão agrícola. Os criadores de gado e os pequenos agricultores então se transferem para regiões ainda cobertas pela floresta, onde promovem mais desmatamento para continuar suas atividades. Em março de 1999, o Ministério do Meio Ambiente também estabelece uma medida para limitar a ação das famílias que vivem da agricultura na Amazônia. Segundo ela, cada família só poderá desmatar, no máximo, 3 ha/ano de florestas nativas para produção. Esse limite pode chegar a 5 ha, no caso das posses coletivas.

Mata Atlântica

É a formação mais devastada do país. Corresponde à área litorânea do Brasil, que foi ocupada desde os primeiros tempos da colonização. Ela chegou a cobrir 15% do território nacional, estendendo-se do Rio Grande do Norte ao litoral de Santa Catarina. No período colonial , no entanto, já foi em grande parte destruída para dar lugar à agricultura canavieira no Nordeste. No Sudeste, cedeu espaço mais tarde para a produção cafeeira. Hoje está reduzida a 7% de sua área original. Apesar da devastação, ainda abriga quantidade significativa de espécies animais e vegetais – são 6 mil plantas endêmicas, 160 espécies de mamíferos e 253 de anfíbios. Para tentar preservar a riqueza que ainda resta, centenas de ONGs desenvolvem projetos ambientais na mata Atlântica.
De clima tropical , quente e úmido, a mata Atlântica apresenta um relevo de planaltos e serras, que impedem a passagem de massas de ar para o interior, provocando chuvas constantes. Sua área abrange as bacias dos rios Paraná, Uruguai, Paraíba do Sul, Doce, Jequitinhonha e São Francisco. Rica em espécies vegetais, apresenta árvores como o jequitibá-rosa, o cedro, a figueira, o ipê, a braúna e o pau-brasil. Muitos dos animais brasileiros ameaçados de extinção se encontram em suas florestas.
A região concentra os grandes conglomerados populacionais e urbanos do país. Calcula-se que mais de 70% da população brasileira viva nessa área. Como conseqüência, reúne também os principais pólos industriais, petroleiros e portuários do Brasil, respondendo por cerca de 80% do PIB nacional.

Desmatamento da Mata Atlântica

Quando os primeiros colonizadores chegaram ao país, a mata Atlântica cobria 15% do território brasileiro. Era uma área de floresta superior a 1 290 692 km², que se estendia do norte ao sul da costa litorânea, por 17 estados. Segundo os ambientalistas, o desmatamento atinge diariamente uma área equivalente a 390 campos de futebol. Assim, da mata original restam apenas 90 438 km², que se encontram sob ameaça permanente. De acordo com um relatório elaborado pelo Inpe, com a colaboração do Instituto Sócioambiental (Isa) e da organização SOS Mata Atlântica, ela perdeu 5 003 km² apenas entre 1990 e 1995. O estudo analisou nove estados, onde se encontram 80% das áreas de vegetação remanescente. O Rio de Janeiro foi o mais devastado nesse período, com perda de 13%, ou cerca de 650 km², de mata Atlântica, que deram lugar principalmente a pastagens e empreendimentos imobiliários. Em junho de 1999, a organização Conservation International e a SOS Mata Atlântica firmam um acordo de parceria – Aliança para Conservação da Mata Atlântica – com o objetivo de desenvolver programas de preservação na região. Entre eles estão projetos de educação ambiental e o monitoramento das áreas desmatadas e das espécies ameaçadas de extinção.

Caatinga

Ocupa 10% do território nacional, abrangendo os estados do Ceará, do Rio Grande do Norte, da Paraíba, de Pernambuco, de Sergipe, de Alagoas, da Bahia, o sul e o leste do Piauí e o norte de Minas Gerais. A vegetação da caatinga é típica de áreas secas, com folhas finas ou inexistentes. Algumas plantas armazenam água e outras possuem raízes superficiais para captar o máximo de água da chuva. As espécies mais comuns são a amburana, a aroeira, o imbuzeiro, a baraúna, a maniçoba, a macambira, o mandacaru e o juazeiro. Na caatinga vive a ararinha-azul, ave em risco de extinção.As temperaturas médias anuais são elevadas e oscilam entre 25 ºC e 29ºC. O clima é semi-árido e o solo, raso e pedregoso. A falta de chuvas é um dos grandes problemas da região, onde vivem atualmente cerca de 20 milhões de pessoas. As secas são cíclicas e prolongadas, interferindo de maneira decisiva na vida do sertanejo – nome pelo qual é conhecido o típico habitante da caatinga. Elas prejudicam bastante a produção agrícola e a pecuária, as bases da economia local. Com isso, a região enfrenta também graves problemas sociais, entre eles o baixo nível de renda e escolaridade, a falta de saneamento básico e altos índices de mortalidade infantil. Para combater as secas, são construídos açudes e poços artesianos. Desde o período imperial, boa parte das tentativas de promover o desenvolvimento na caatinga esbarra na aridez da terra e na instabilidade das precipitações.

Cerrado

É a segunda maior formação vegetal brasileira. Estendia-se originalmente por uma área de 2 milhões de km², abrangendo dez estados do Brasil Central. Hoje, restam apenas 20% desse total.Típico de regiões tropicais, o cerrado apresenta duas estações bem marcadas: inverno seco e verão chuvoso. Com solo de savana tropical, deficiente em nutrientes e rico em ferro e alumínio, abriga plantas de aparência seca, entre arbustos esparsos e gramíneas, e o cerradão, um tipo mais denso de vegetação, de formação florestal. A presença de três das maiores bacias hidrográficas da América do Sul (Tocantins-Araguaia, São Francisco e Prata) na região favorece sua biodiversidade . Estima-se que 10 mil espécies de vegetais, 837 de aves e 161 de mamíferos vivam ali. Essa riqueza biológica, porém, é seriamente afetada pela caça e pelo comércio ilegal.O cerrado é o sistema ambiental brasileiro que mais sofreu alteração com a ocupação humana. Atualmente, vivem ali cerca de 20 milhões de pessoas. Essa população é majoritariamente urbana e enfrenta problemas como desemprego, falta de habitação e poluição, entre outros. A atividade garimpeira, por exemplo, intensa na região, contaminou os rios de mercúrio e contribuiu para seu assoreamento. A mineração favoreceu o desgaste e a erosão dos solos. Na economia, também se destaca a agricultura mecanizada de soja, milho e algodão, que começa a se expandir principalmente a partir da década de 80. Nos últimos 30 anos, a pecuária extensiva, as monoculturas e a abertura de estradas destruíram boa parte do cerrado. Hoje, menos de 2% está protegido em parques ou reservas.

Campos

É uma formação bastante variada. Aparece principalmente na Região Norte, na forma de savanas de gramíneas baixas nas terras firmes do Amazonas, de Roraima, do Pará e das ilhas do Bananal e de Marajó; na Região Sul, surge como as estepes úmidas dos campos limpos.
Os campos do Sul são formados principalmente pelos pampas gaúchos, região plana de vegetação aberta e de pequeno porte que se estende do Rio Grande do Sul à Argentina e ao Uruguai. Suas terras, de boa qualidade e com grande abundância de água, são amplamente utilizadas para o cultivo de arroz, milho, trigo e soja, às vezes em associação com a criação de gado. São áreas de agricultura mecanizada e moderna. A população é urbana e bem distribuída pelo território, e se destacam cidades como Santa Maria, Alegrete e Uruguaiana, no Rio Grande do Sul.
Os campos do Norte, na fronteira entre a Amazônia e a caatinga, caracterizam-se por áreas secas e de florestas dominadas por palmeiras, as matas de cocais, onde predomina o extrativismo. A formação é definida como um sistema de transição pela especificidade de sua vegetação, com grande quantidade de buritis, oiticicas, babaçus e carnaúbas, palmeiras das quais se extraem óleo e cera. Essas espécies são típicas de áreas onde as florestas nativas foram desmatadas. É uma região de baixíssima densidade demográfica, quase desabitada.