Fatos Gerais

Açúcar não é açúcar: o simples e o complicado

Açúcar não é açúcar. Parece confuso? Concordo, a culpa é da teoria dos açúcares. Açúcar de verdade, aquele de que seu corpo necessita e que fornece energia para você viver, só existem dois: a glicose e a frutose. Apenas esses dois açúcares foram preparados pela natureza para consumo humano, se é que isso existe.

Glicose e frutose são chamados de açúcares simples porque já estão prontos para ser utilizados pelo organismo. Do jeito que forem ingeridos serão assimilados, não sofrem nenhuma ação de enzimas digestivas, não dão trabalho ao organismo. Glicose e frutose são irmãos gêmeos, possuem a mesma fórmula química (isomeria) e são fontes diretas de energia. A rigor, açúcar em última instância é a glicose; a frutose, apesar de ser assimilada enquanto tal pelo organismo, no fígado se transforma em glicose. Esses dois açúcares de verdade é que são oferecidos a você de bandeja, nas frutas maduras e no mel das abelhas.

Ainda hoje alguns médicos e nutricionistas referem-se ao açúcar do açucareiro como sendo um “açúcar simples”. Estão enganados. Açúcar simples é um conceito científico. Simples são os açúcares que não são hidrolisáveis a unidades menores, espécies de átomos de açúcar que não podem mais ser divididos. Chamam-se também de monossacarídeos por constituírem uma unidade. Exemplos desses açúcares são glicose, frutose, manose e galactose. Se você ligar dois monossacarídeos por meio de uma ligação glicosídica terá um dissacarídeo, exemplos: sacarose, maltose e lactose; se ligar três terá um trissacarídeo, e assim por diante. Todos eles são chamados também de “açúcares”.

Os açúcares constituídos de dois até seis monossacarídeos são chamados de oligossacarídeos (o manualzão de Krauze fala em até 20 monossacarídeos). De seis para cima são os polissacarídeos: por exemplo, amido e celulose no reino vegetal e glicogênio no animal. Os mono e os oligossacarídeos têm gosto doce, já entre os “açúcares” da classe dos polissacarídeos, alguns são até amargos. Por outro lado existem substâncias que não são “açúcares”, isto é, carboidratos, mas que são tão doces que põem o açúcar no chinelo. Taumatina e monelina, proteínas extraídas de plantas africanas, são três mil vezes mais doces que açúcar.

O açúcar complicado (ele mesmo, o do açucareiro) não é açúcar de verdade. A sacarose, como o açúcar é conhecido pelos químicos é, a rigor, um corpo estranho infiltrado na dieta humana, uma substância de reserva dos vegetais. Ela é, como está em Krauze, utilizada pelas plantas para transportar energia (glicose e frutose) para os tecidos, raízes, tubérculos e sementes não fotossintetizantes, para uso e armazenamento como grânulos de amido. A sacarose antes de ser utilizada pelas plantas ou pelo organismo humano tem que ser decomposta (hidrolisada) em suas partes constituintes, justamente glicose e frutose. A sacarose, portanto, é fonte de glicose e frutose; estas duas é que são fontes de energia. Em outras palavras, sacarose não é açúcar e sim fonte ou reserva de açúcares. Poderíamos chamá-la também de substância precursora de açúcar A sacarose segundo Lehninger, clássico da bioquímica, “é a principal forma de transporte de açúcar das folhas para as demais partes das plantas, via sistema vascular (…); sua propriedade não redutora a protege do ataque oxidativo ou hidrolítico por parte de enzimas vegetais até que ela atinja seu destino no interior da planta”.(17)

Açúcar refinado

O destino da sacarose nos vegetais, portanto, é transformar-se em glicose e frutose. Enquanto circula nos vegetais ela é instável. A cana-de-açúcar, por exemplo, depois que é cortada no canavial, tem que ser levada às pressas para a usina a fim de ser espremida e misturada com produtos químicos antes que a sacarose comece a transformar-se em açúcares redutores (glicose e frutose) como dizem os químicos. Lehninger considera um enigma da natureza o fato de a sacarose também não ser um açúcar redutor. Na verdade o açúcar é um enigma semântico ou um caso de falsidade ideológica: deram o nome de açúcar a uma substância de reserva de açúcares.

A sacarose em estado natural, como no caldo de cana, por exemplo, acompanhada de nutrientes é digerível embora tenha contraindicações. O Dr. João Curvo alerta que caldo de cana deve ser evitado durante as diarreias e que em excesso pode acarretar vômito e flatulência.(18) O problema é a sacarose concentrada ou refinada. A cana e a beterraba em si são alimentos; a sacarose refinada é apenas a parte combustível do alimento “cirurgicamente” isolada. Outro problema é que todos os alimentos já fornecem energia, de modo que o açúcar acrescentado transforma os alimentos açucarados numa bomba calórica patogênica. Esse é a meu ver o que torna a sacarose um corpo estranho aos alimentos sua natureza patogênica. “Alimento” que causa doença não é alimento.

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Do exposto fica claro que o açúcar ideal para o consumo humano são apenas dois: a glicose e a frutose, presentes nas frutas e no mel. Aliás os melhores méis de abelha são justamente aqueles em que a sacarose está ausente, como o mel da abelhinha Jataí. As abelhas possuem enzimas que hidrolisam a sacarose para oferecer no mel apenas glicose e frutose; e o teor de sacarose numa fruta é residual quando ela está madura e docinha. Por que então os homens fizeram questão de industrializar uma substância de reserva e não os verdadeiros açúcares? Pela simples razão de que a sacarose é muito mais abundante na natureza. A glicose e a frutose encontram-se no fruto maduro e doce. A sacarose se encontra em todas as plantas, nas folhas, nas raízes, nos caules. O açúcar do açucareiro vem de onde? Vem do colmo de uma gramínea (a cana), no fundo um capim duro, ou da raiz da beterraba. Não está claro nisso tudo um recado da mãe natureza de que o açúcar que ela preparou para consumo de seus filhos está nas frutas e no mel?

Outra substância de reserva de açúcar dos vegetais é o amido, uma espécie de reserva estratégica, estacionária. O amido concentra muitas moléculas de glicose; depois de lentamente digerido ele fornece glicose ao organismo, é o famoso alimento que na barriga vira açúcar. O amido contido nos cereais naturais, porém, não é açúcar puro; é um alimento importante, rico em fibras, vitaminas e sais minerais. O amido “puro”, “isolado”, como é o caso da famosa Maizena, é um alimento pobre, sem fibras, vitaminas e sais minerais. A Maizena recentemente criou uma versão do produto que incorpora uma penca de vitaminas e minerais. Tivesse acrescentado fibras e teríamos um caso de alimento refinado que deu o braço a torcer.

O açúcar do leite, a lactose, também não é um açúcar de verdade. A lactose, como a sacarose, é um dissacarídeo e tem que ser hidrolisada no intestino antes de ser assimilada e metabolizada pelo organismo. O verdadeiro açúcar do leite é a galactose, monossacarídeo que, assim como a frutose, no organismo humano se transforma em glicose.

Estou aqui a defender que açúcar de verdade são apenas os monossacarídeos? Sim e não, porque monossacarídeos existem mais de duzentos na natureza, mas do ponto de vista de quem tem fome ou da dieta e nutrição humana apenas dois monossacarídeos têm valor: glicose e frutose, os dois naturalmente presentes nas frutas e no mel. A galactose, monossacarídeo do leite, embora tenha reconhecida importância dietética, não existe livre na natureza. Talvez os vegetarianos tenham razão quando pedem para deixarmos o leite da vaca para os bezerros.

Os naturalistas, as donas de casa e até médicos, nutricionistas e químicos, pelo fato de o açúcar provir da cana e da beterraba, acham que se trata de um alimento, um produto natural. Estão todos enganados. Querem ver? Raciocinem junto comigo: o que é que o açúcar tem em comum com a cana- de-açúcar? NADA. Açúcar é igual a sacarose menos a cana.

Açúcar é 99,5% de sacarose e os outros 0,5% sequer são cana, mas lixo químico fino, cinzas e outros produtos tóxicos, inclusive metais pesados.

Com o açúcar de beterraba a mesma coisa: é sacarose menos a beterraba. Os dois açúcares, o de cana e o de beterraba, são iguaizinhos, ambos têm a forma de um pó branco.

Se houver alguma diferença entre os açúcares de cana e o de beterraba deve-se ao seguinte: como nos processos de refinamento usam químicas diferentes – um usa sulfitação, e o outro carbonatação – a diferença estará no lixo químico fino. Ou então o açúcar não foi purificado a contento e o de cana ficou com um cheirinho de cana e o outro com um cheirinho de beterraba.

Já li que o açúcar de beterraba é um pouquinho alcalino comparando com o de cana. E uma curiosidade: A raiz de beterraba da qual se obtém sacarose não é essa vermelhinha que consumimos nas saladas e nos sucos. E não existe açúcar bruto ou mascavo feito de beterraba por causa de um princípio amargo nela contido.

Sobre o texto acima:

O texto acima foi retirado do livro “O livro negro do açúcar”.

Titulo do Livro: O livro negro do açúcar

Subtitulo do Livro: Algumas verdades sobre a indústria da doença

Texto enviado às 15:33 – 13/01/2009

Autor do Livro: Fernando Antonio Carneiro de Carvalho

Fontes:

17 – LEHNINGER, A. Bioquímica. São Paulo: Edgar Blucher, 1976, p. 487.

18 – CURVO, J. Magros yin e yang. Rio de Janeiro, Rocco, 1990, p. 74.

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