História

Planos Econômicos do Brasil Pós-ditadura

A última eleição indireta de um candidato civil, em 1985, marca o fim do Regime Militar, mas a transição para a democracia só se consolida em 1988, no governo Sarney, quando é promulgada a nova Constituição por uma Assembléia Constituinte. A volta aos padrões democráticos não é suficiente para superar os graves problemas sociais e econômicos advindos da inflação e do endividamento externo. Para enfrentar seus desafios, os governos dos Presidentes José Sarney e Fernando Collor irão praticar sete planos consecutivos de combate à inflação: Cruzado (início de 1986), Cruzadinho (meados de 1986), Cruzado II (final de 1986), Bresser (junho de 1987), Verão (janeiro de 1989), Collor (março de 1990) e Collor 2 (janeiro de 1991). O fracasso ou má condução desses planos levou o país a uma hiperinflação, com a moeda desvalorizada em três decimais duas vezes no período de três anos. Somente em 1994, com a elaboração do Plano Real, durante o governo Itamar Franco, e sua manutenção e desenvolvimento no governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso, o país veio a conhecer uma relativa estabilidade monetária, ora e outra ameaçada pelas sucessivas crises dos mercados internacionais.

O Cruzado
Como medida de combate à inflação, o governo Sarney adota em 1986 novo padrão monetário, o cruzado, equivalente a mil vezes a moeda anterior, o cruzeiro, e representado por Cz$. A exemplo dos procedimentos anteriores, as cédulas do antigo padrão recebem um carimbo com indicação do valor correspondente em cruzados. A efígie do Presidente Juscelino Kubitschek, que figurava nas cédulas de 100.000 cruzeiros, volta a aparecer na nova nota de 100 cruzados. Posteriormente, novas cédulas são postas em circulação, contendo a legenda DEUS SEJA LOUVADO. Figuras da vida cultural brasileira são agora introduzidas em vez dos tradicionais vultos da história política: em 1987 e 1988, além da nota de 500 cruzados com a efígie do compositor Villa-Lobos, circulam as de 1.000 com o retrato do escritor Machado de Assis, de 5.000 com o do pintor Cândido Portinari e de 10.000 com o do cientista Carlos Chagas.

100 cruzados, Centenário da Lei Áurea, aço inoxidável, 1988

No lugar das antigas moedas de cruzeiro, foram cunhadas, entre 1986 e 1988, as moedas de aço inoxidável de 50, 20, 10, 5 e 1 centavos; as de 5 e 1 cruzados, que substituíram as cédulas de 5.000 e 1.000 cruzeiros; e, de 1987 a 1988, as de 10 cruzados também em aço. As moedas de 100 cruzados surgiram em 1988 para comemorar o centenário da assinatura da Lei Áurea e traziam a efígie de criança, homem ou mulher negros, junto com a saudação africana Axé. O conjunto de estrelas ao lado do valor simbolizava o número cem, para facilitar a leitura pelos deficientes visuais.

O Cruzado Novo

200 cruzados novos, Centenário República, prata, 1989

No ano de 1989, verifica-se nova desvalorização de três decimais no padrão monetário, que passou a denominar-se cruzado novo, representado por NCz$, procedendo-se à carimbagem das cédulas de 10.000, 5.000 e 1.000 cruzados, que passaram a valer 10, 5 e 1 cruzados novos. Entram em circulação as cédulas de 100 e 50 cruzados novos, homenageando os poetas Cecília Meireles e Carlos Drummond de Andrade e, para comemorar a passagem do centenário da Proclamação da República, a de 200 cruzados novos. No ano seguinte, faz-se a última emissão em papel-moeda desse padrão, a cédula de 500 cruzados novos, que homenageia o naturalista Augusto Ruschi.

100 cruzados novos, Banco Central do Brasil, estampa A, 1989

Quanto às moedas, ainda em comemoração ao centenário da Proclamação da República, foram cunhadas em 1989 as de prata, no valor de 200 cruzados novos, e as de aço inoxidável, no valor de 1 cruzado novo, com a efígie da República. Entre 1989 e 1990, foram cunhadas moedas de aço inoxidável de 50, 10, 5 e 1 centavos de cruzado novo, tendo no reverso estrelas que simbolizavam os algarismos do valor em braile. Traziam, respectivamente, a figura da rendeira, garimpeiro, jangadeiro e boiadeiro.

O Cruzeiro

1000 cruzeiros, Banco Central do Brasil, estampa A, 1990

Em 1990, nova reforma monetária modificou a unidade do sistema, que volta a denominar-se cruzeiro, sem que houvesse entretanto alteração dos valores. As cédulas de 500, 200, 100 e 50 cruzados novos receberam carimbos apenas para corrigir a designação da moeda. Houve, em seguida, a emissão das cédulas definitivas naqueles valores, salvo das notas de 50 cruzeiros, que foram substituídas por moedas. A inflação desenfreada exigiu a emissão de cédulas de valores mais elevados: a primeira, de 1.000 cruzeiros, homenageava o sertanista Cândido Rondon; em seguida, circularam duas cédulas de 5.000 cruzeiros, a primeira, provisória, com a efígie da República, e a segunda, definitiva, dedicada ao maestro e compositor Carlos Gomes. Em 1991, circulam as notas de 10.000 cruzeiros, com a figura do médico Vital Brazil, e a de 50.000 cruzeiros, com a do folclorista Luís da Câmara Cascudo, esta última introduzindo, em caráter experimental, três barras verticais e paralelas acima dos algarismos indicativos do valor, para auxiliar sua identificação por pessoas com deficiência visual. Em 1992, aparece a nota de 100.000 cruzeiros, trazendo no anverso o desenho de um beija-flor e, no reverso, as cataratas do Iguaçu. Em 1993, no auge da inflação, surge a cédula de maior valor de face já impressa no Brasil: a de 500.000 cruzeiros, dedicada ao escritor Mário de Andrade, retomando assim as homenagens a expoentes da cultura brasileira.


500 cruzeiros, V Centenário do Descobrimento da América, prata, 1992

Quanto à moedagem, foram cunhadas em 1990, nos valores de 50, 10, 5 e 1 cruzeiros, peças de aço inoxidável, tendo no reverso a representação de tipos humanos brasileiros, como a baiana, o seringueiro e o salineiro. A partir de 1991, deixa de ser fabricada a moeda de 1 cruzeiro e, no ano seguinte, são lançadas as de 1.000, 500 e 100 cruzeiros, sempre de aço inoxidável, retratando a fauna brasileira.

Em 1992 surge a moeda de 5.000 cruzeiros, em aço inoxidável, dedicada aos 200 anos da morte de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes. Neste ano também são lançadas as moedas comemorativas do V Centenário do Descobrimento da América e da II Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento.

O Cruzeiro Real

5, 10, 50 e 100 cruzeiros reais, aço inoxidável, 1993

Em 1993, já no governo Itamar Franco, a moeda é novamente desvalorizada em três decimais: o cruzeiro passa a chamar-se cruzeiro real, representado por CR$, com as duas letras grafadas em maiúsculas para diferenciá-lo do Cr$ da unidade anterior. As cédulas de 500.000, 100.000 e 50.000 cruzeiros recebem um carimbo, passando a representar 500, 100 e 50 cruzeiros reais. Nesse mesmo ano surgiram as cédulas definitivas do novo padrão, nos valores de 5.000 e 1.000 cruzeiros reais (originalmente desenhadas para representar 5 milhões e 1 milhão de cruzeiros, que não chegaram a entrar em circulação), a primeira trazendo a figura do gaúcho (acompanhando a série dos tipos regionais) e a segunda, a efígie do educador Anísio Teixeira. Os crescentes índices de inflação, que atingiram mais de 40% em abril de 1994, levaram ao lançamento da cédula de 50.000 cruzeiros reais, mostrando outro tipo regional, a baiana.

5000 cruzeiros reais, Banco Central do Brasil, estampa A, 1994, reverso

As poucas moedas do padrão cruzeiro real, sempre cunhadas em aço inoxidável, acompanhavam a temática da fauna brasileira: as de 10 cruzeiros reais traziam a figura do tamanduá e a de 5 a da arara. Completando a série, surgiram em fins de 1993 as de 100 e 50 cruzeiros reais com os desenhos do lobo-guará e da onça-pintada, em substituição aos mesmos valores expressos em papel-moeda.

O Real

25 centavos, aço inoxidável, 1994

Tendo a inflação alcançado o alarmante índice de 3.700% nos primeiros onze meses de duração do cruzeiro real, o governo Itamar Franco passou a adotar, a partir de março de 1994, um indexador único da economia, designado Unidade Real de Valor (URV), para estabelecer uma proporção entre salários e preços, que se transformaria em nova moeda quando todos os preços, em tese, estivessem estáveis em termos de URV.

Essa estabilidade pressuposta ocorreu a 1° de julho de 1994, quando a URV, equivalendo a 2.700 cruzeiros reais, passou a valer 1 real, representado pelo símbolo R$. As cédulas do novo padrão, impressas tanto no país quanto no estrangeiro, com matrizes fornecidas pela Casa da Moeda do Brasil, acompanhavam a temática da fauna brasileira, tendo as notas de 100, 50, 10, 5 e 1 reais respectivamente as figuras da garoupa, onça-pintada, arara, garça e beija-flor. Todos os valores tinham estampada a efígie da República no anverso.

Grande ênfase foi dada às moedas: surgiram na mesma data, nos valores de 1 real e de 50, 10, 5 e 1 centavos, cunhadas em aço inoxidável, tendo numa das faces a efígie da República. Meses depois, dada à escassez de troco, tornou-se necessária a cunhagem de moedas de 25 centavos, também de aço inoxidável, com os mesmos elementos das demais, porém com o desenho alterado para permitir melhor identificação.


1 real, Banco Central do Brasil, estampa A, 1994, reverso

Em 1994, procedeu-se à cunhagem de várias moedas comemorativas: a de prata, de 2 reais, para festejar os 300 anos de instalação da primeira Casa da Moeda do Brasil; e as de ouro, de 20 reais, e de prata, de 4 reais, para homenagear o quarto campeonato de futebol, conquistado pela seleção brasileira na Copa dos Estados Unidos. Em 1995, o Banco Central do Brasil, responsável pela emissão de moeda no país, também celebrou a passagem dos 30 anos do início de suas atividades com o lançamento da moeda de prata de 3 reais; e o piloto Ayrton Senna foi homenageado com a cunhagem de moedas de ouro e de prata, respectivamente nos valores de 20 e de 2 reais; celebrando o cinqüentenário da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura – FAO, foram cunhadas moedas de aço inoxidável nos valores de 25 e 10 centavos, trazendo no anverso imagens alusivas à agricultura e reverso idêntico às em circulação.

Em 1998, procurando valorizar o conceito do dinheiro metálico entre a população brasileira, o governo lançou nova família de moedas mais pesadas e facilmente diferenciáveis, para atender à demanda da sociedade, principalmente de idosos e deficientes visuais.

A partir de abril do ano 2000, o Branco Central colocou em circulação uma cédula de 10 reais, comemorativa dos 500 anos do Descobrimento do Brasil, feita de polímero, material plástico ultra-resistentes, que permite a aposição de elementos de segurança de última geração, até agora inéditos no meio circulante brasileiro. A nota contém na face a efígie de Pedro Álvares Cabral, cujo nome aparece abreviado (Pedro A. Cabral), o mapa “Terra Brasilis”, a legenda indicativa do valor sobre a qual foram aplicadas microimpressões; no verso, uma estilização do mapa do Brasil com quadros impressos por calcografia e off-set, nos quais aparecem fisionomias típicas do povo brasileiro (índio, branco, negro e mestiço). Um fio de segurança percorre anota de alto a baixo, com propriedade magnética para leitura por equipamento eletrônico de seleção e contagem. Há ainda impressões em alto relevo, fundos especiais, filtro verificador, imagem latente e elemento visível sob luz ultravioleta, que dificultam sobremaneira a contrafação da cédula.

Fonte:
bb.com.br