Fatos Gerais

Tropicalismo

O que foi o Movimento Tropicalista
Canções Tropicalistas: São canções que representavam um a mudança, em relação às canções de protesto e as românticas tanto em termos de música quanto de letra. Na música, deixavam transparecer a influencia internacional, especialmente de instrumentos eletrônicos, uma verdadeira revolução, dentro da MPB. Na letra na o deixavam antever posicionamento político, e priorizam elementos não considerados nas demais canções.

Tropicalismo
Em 1967, ocorreu dentro dos Festivais um ruptura na música popular brasileira com relação na forma hegemônica de cantar e ver o mundo. As canções que produziram esta ruptura foram denominadas tropicalistas.

“Domingo no Parque”, de Gilberto Gil e “Alegria, alegria” de Caetano Veloso sacudiram o Festival de Record e obtiveram respectivamente, 0 2º e o 4º lugar.

No tropicalismo, os músicos pertencem ao grupo dos malditos, não convencionais. A longa introdução de “É proibido proibir”(FIC, 68) é um excelente exemplo da presença desses músicos, cujo as experiências causavam grande impacto, e não se enquadravam nos padrões musicais aos quais o publico estava acostumado. Como contra ponto ouça-se “Sabiá”, de Tom Jobim, participante (e vencedor) do mesmo Festival, uma canção sem afinada com o padrão já consagrado da época.

“Alegria, alegria” e “Domingo no Parque” geraram polemicas imensas entre o publico e críticos. Mas não se negou sua importância, enquanto introdutoras, na MPB, de novos elementos, tal como estava ocorrendo na sociedade brasileira. A visão de mundo que perpassava as canções de protesto e “românticas” estava devastada. Se num primeiro momento (1964) isto ocorreu no setor político nos anos seguintes a sociedade, inclusive as camadas populares também não correspondiam às conclamações e palavras de ordem vinculadas pelas canções, apesar delas serem bem recebidas e aplaudidas.

O tropicalismo efetuou um processo de desconstrução da tradição musical, da ideologia do seu desenvolvimento e do nacionalismo popular.

Na visão tropicalista, não há uma verdade que o compositor deve anunciar. Se há, ela não é conhecida. A realidade esta fragmentada, ha múltiplos estímulos, indagações, fatores novos e ante tudo isto o compositor se encontra perplexo. Sua proposta é:

“Eu vou…
Por que não ?
Porque não
Por que não ?”

Os tropicalistas, “Trabalhando criticamente o acontecido nos Festivais, delinearam, com outros artistas, uma posição cultural de revisão das manifestações, decorrentes do golpe de 64. Tal atitude, após um primeiro momento de oposição à situação cultural e tentativas de reformulação dos processos de analise e compreensão da nova realidade, desembocava a mim a exigência de violência, visando a anulação das respostas anteriores, no esforço, de partir do zero para uma reconstrução”. Celso Favaretto, Tropicália. “Alegria, alegria”.

Era necessário elaborar uma nova maneira de encarar o mundo, pois o mundo mudara. E não mudara segundo o modelo idealizado e previsto pelos mestre inspiradores das canções de protesto e “românticas”.

É notável o discurso de Caetano Veloso, interpelando os que vaiavam quando da classificação de “É proibido proibir” (FIC,68)

“Mas isso a juventude que diz que quer tomar o poder? A mesma juventude que vai sempre, sempre, matar o velhote, o inimigo que morreu ontem! Vocês não estão entendendo nada!(…) Nós (ele e Gil) tivemos a coragem de entrar em todas as estruturas e sair delas. Se vocês são em política com são em estatística, estamos feitos.”

Os tropicalistas, contemplaram, refletiram e participaram, particularmente, abrindo espaços para o novo – instrumentos musicais eletrônicos, arranjos musicais eruditos – e efetuando os desvelamento de uma nova realidade. Pode-se ver nas composições tropicalistas uma atitude de provocação. Não povo cação para o confronto, provocação para acordar. Era preciso acordar para uma nova realidade, que não se assemelhava com aquela por eles Cantada e Sonhada, mas que, de fato, existia, e que era necessário, fosse encarada, sob pena da desvinculação entre MPB e sociedade brasileira.

Aqueles que acusam as canções tropicalistas de “difíceis”, desligadas da realidade nacional, por serem cultas e refinadas, dentro do universo de incultura, deixam de perceber que os tropicalistas no momento exato, salvaram do marasmo a MPB. E, por que só acentuar a erudição tropicalista, se ela fez o resgate do elemento cafona, tão presente na cultura popular brasileira, e que, até então, vinha sendo sistematicamente ignorado?

Entre os compositores de MPB o tropicalismo fez balançar as estruturas. A industria cultural, se agigantava e começava a assustar. Os integrantes do movimento tropicalista – Caetano, Gil, Tom, Zé, Gal, Os Mutantes (com Rita Lee), os Beat Boys – não pareciam assustar-se com o avanço desta industrialização. Existia um publico consumidor, a ele a industria cultural atendia e pretendia dirigir. Os tropicalistas aceitavam este dado e produziram canções que tratavam do imaginário deste publico consumidor de MPB. Reproduziram seu imaginário pela musica, textos e encenações que compunham a apresentação de suas musicas. O povo falado, cantado, orientado, nas canções de protesto e nas canções tropicalistas.

O tropicalismo mergulhou com sofreguidão e espanto no universo cultural brasileiro e colocou em cena elementos ainda não enfatizados. Os tropicalistas retratam: a ideologia do não comprometimento com as questões políticas, da preocupação com o individual (como se este independesse do coletivo), a renegação da temática social.

A canção tropicalista trouxe uma choque – o choque do novo. Revolucionou, desvendando uma realidade existente, totalmente diferente da sonhada, cantada, anunciada.

O tropicalismo é o réquiem de uma ideologia. Ideologia que resiste durante anos a uma nova ordem político-social, mas que acabou por submergir.

“… o tropicalismo apresenta tudo o que ficava fora do que Caetano chamou de “circulo do bom gosto”, quer dizer, aqueles músicos da classe media universitária fazendo musicas brasileira, e o efeito é culturalmente explosivo e contundentemente critico, naquele momento do paternalismo populista (…) Na tropicália a parodia não é apenas uma apresentação cafona (…) ou uma mera exibição do que seria grotesco na cultura popular de massa (…) a tropicália quer acabar justamente com a idéia do bom gosto como critério cultural, e não encastelar-se nele para fazer a critica do mau gosto (…) engloba tudo o que é contemporâneo num sentido muito amplo da contemporaneidade.”

Contradições Antropofágicas do Tropicalismo
Em 1967, no III festival de Musica Popular, na TV Record, Caetano Veloso e Gilberto Gil irrompem no debate cultural da época, causando polêmicas com suas músicas Alegria, alegria (quarto lugar) e Domingo no Parque (segundo lugar), respectivamente. Acompanhados pelas guitarras dos Beat Boys e dos Mutantes, acabam incorporando dados modernos e atuais dentro da “geléia geral brasileira”, realçando a mistura de arcaísmo e modernização fundindo os elementos tradicionais da música popular brasileira com a modernidade da vida urbana e sua cultura de consumo a partir de um discurso de caráter fragmentário e descentrado como num filme de Glauber Rocha.

Inspirado no “Manifesto Pau-Brasil”, da Semana da Arte Moderna, de 1922, do poeta Oswald de Andrade, o Tropicalismo criou uma estética antropofágica contemporânea, que procurava deglutir os movimentos de vanguarda vindos de fora no “primitivismo” da cultura de uma relação de contrastes entre o moderno e o arcaico, o místico e o industrializado, o primitivo e o tecnológico. Suas alegorias e sua linguagem metafórica criavam um humor crítico (paródia) que tentava superar a polarização entre as posições estéticas defensoras da cultura engajada e da cultura de massa.

Assim é que, sem incorrer no discurso militante da esquerda, na música de protesto nem no “comercialismo” do iê – iê – iê, a Tropicália trabalhou a política e a estética num mesmo plano, mostrando as condições da nossa modernização subdesenvolvida a partir de uma outra forma de arte. Isso pode ser exemplificado pela música Tropicália (1968), de Caetano Veloso, uma espécie de símbolo e síntese das idéias do movimento:


Sobre a cabeça os aviões
Sob os meus pés os caminhões
Aponta contra os chapadões
Meu nariz

Eu organizo o movimento
Eu oriento o carnaval
Eu inauguro o monumento
No planalto central
Do país

Viva a bossa – sa – sa
Viva a palhoça – ça – ça – ça – ça
(…)
Domingo é fino da bossa
Segunda-feira está na fossa
Terça-feira vai a roça
Porém

O monumento é bem moderno
Não disse nada do meu terno
Que tudo mais vá pro inferno
Meu bem
Que tudo mais vá pro inferno
Meu bem

Viva a banda – da – da
Carmem Miranda – da – da – da – da

Como percebemos nesse trecho, uma tensão crítica entre o moderno e o arcaico percorre toda a letra da música “bossa” e “palhoça”; “fino da bossa” (alusão do programa de tevê), a mesma é acompanhada pelo arranjo da canção, que mistura ritmos populares brasileiros com música de vanguarda promovendo uma mistura do primitivo com o moderno.

O disco – manifesto do movimento, Tropicália ou panis et circensis até hoje, tendo se tornado a síntese das propostas estéticas da linguagem tropicalista. A maioria de público não entendia o movimento, odiados pela direita, por causa das atitudes provocadoras e longe dos padrões restritos da cultura e proposta de esquerda, a Tropicália pagaria o preço de sua ousadia até seu fim. O confronto se deu em 1968, em uma noite no TUCA durante o II Festival Internacional da Canção.

A platéia formada basicamente por universitários de esquerda recebe à Caetano Veloso com vaias, a reação dos mesmos à canção É proibido proibir também foi mal recebida, após o ocorrido Caetano Veloso interrompe sua apresentação e inicia um discurso que denuncia o conservadorismo político – cultural da esquerda. O Tropicalismo tentou responder de forma original. Entre a exigência de uma cultura politizada e a solicitação de uma cultura de consumo, optou pela tensão que poderia ser estabelecida entre esses dois pólos de concepção estética e política. Mas o Tropicalismo, dentro desse quadro de agitação e repressão político – cultural, mostraria sua importância ao deixar um caminho para a disposição anárquica e rebelde, que iria se refletir, na experiência contracultural da juventude brasileira, no início da década de 70.