História

Primeiras Explorações do Brasil (1501 – 1515)

O arrendamento do Brasil e o ciclo do pau-brasil
Logo nos primeiros anos após a descoberta do Brasil, arrefeceu o interesse do rei D. Manoel pela nova terra.

A expedição enviada à costa do Brasil no ano de 1501, e que regressou a Portugal em 1502, não apresentou resultados que fossem de molde a entusiasmar o Governo português, cúpido do mito do metal, pois no Brasil “nada fôra encontrado de proveito, exceto infinitas árvores de pau-brasil, de canafístula, as de que se tira a mirra e outras mais maravilhas da natureza que seriam longas de referir” (carta de Américo Vespucci a Soderini).

A côrte era nequele tempo verdadeiramente uma grande casa de negócio e, como, por um lado, estivesse fundamente absorvida com as dispendiosíssimas expedições à Índia, onde pretendia estabelecer um vasto império colonial, e, por outro lado, não enxergasse lucros apreciáveis e imediatos na exploração do Brasil, este ia sendo relegado a um simples ponto de ligação nas viagens à Índia, uma escala de refresco e aguada.

É assim de todo compreensível que, tendo o monarca recebido em 1502, de um consórcio de judeus dirigido pelo cristão-novo Fernando de Noronha, uma proposta para exploração da nova colônia mediante contrato de arrendamento, ele a aceitasse de bom grado; era a colonização do Brasil que se lhe oferecia, para ser feita a expensas de particulares, sem riscos e sem ônus ou quaisquer encargos para o erário público, e ainda com a possibilidade de lhe serem proporcionados lucros e de, sob certa forma, ser sustentada, ainda que fracamente, a autoridade portuguesa na nova possessão.

O acordo – que era um monopólio de comércio e de colonização – foi firmado em 1503, pelo prazo de 3 anos, e compreendia os seguintes principais compromissos dos arrendatários:

1. Enviar seis navios anualmente;

2. Explorar, desbravar e cultivar, cada ano, uma nova região de 300 léguas;

3. Construir nessas regiões fortalezas e guarnecê-las durante o prazo do contrato;

4. Destinar à Coroa, no segundo ano do arrendamento, a sexta parte das rendas auferidas com os produtos da terra, e, no terceiro ano, a quarta parte das mesmas.

Esse contrato foi, com algumas modificações, sucessivamente renovado em 1506, 1509 e 1511, estendendo-se até 1515.

No próprio ano do contrato inicial – mais precisamente, em maio de 1503 – desferrou de Portugal com destino ao Brasil a primeira frota, composta de seis navios, sob o presumível comando pessoal de Fernando de Noronha, tendo aportado em 24 de junho de 1503 a uma ilha até então desconhecida, que inicialmente recebeu o nome de São João, mais tarde trocado para “Fernando de Noronha” em reconhecimento aos méritos do seu descobridor, a quem acabou sendo doada pelo rei em 1504.

Nesse ano de 1504, os navios de Fernando de Noronha voltaram para Portugal com enorme carregamento de pau-brasil (também chamado “madeira judaica”), artigo então grandemente procurado nos mercados europeus para as indústrias de corantes.

Tão intenso se tornou o comércio do pau-brasil durante o arrendamento do Brasil a Fernando de Noronha – exportavam-se nada menos de 20.000 quintais por ano – e de tal importância econômica ele se revestiu, que deu origem à denominação de “ciclo do pau-brasil”, sob a qual é conhecido aquele período, além de ter determinado a adoção do nome definitivo da terra – Brasil, em substituição ao de Santa Cruz (ou ainda Terra dos Papagaios), como era antes designada.

Fernando de Noronha, o arrendatário judeu
Fernando de Noronha – também chamado Fernão de Noronha ou Fernão de Loronha – foi sem dúvida uma personalidade marcante na vida pública de Portugal.

Homem de extraordinária atividade e singular visão comercial, não tardou a entrosar muitos e vultosos negócios com a côrte, a qual não lhe regateou manifestações de reconhecimento pela sua destacada contribuição ao desenvolvimento comercial e marítimo do reino, concedendo-lhe vários títulos nobiliárquicos, afora a permissão de usar o brazão que lhe conferira a Coroa Inglesa.

Admite-se que Gaspar da Gama, ao voltar do Brasil, teria sugerido a Fernando de Noronha a conveniência de ser a nova colônia portuguesa utilizada como refúgio para os judeus perseguidos, e que essa sugestão teria induzido Fernando de Noronha a propor ao Governo o arrendamento do Brasil, visando assim facilitar a transmigração judaica.

Refere-se subsidiariamente, com base em documentos do arquivo da Torre de Tombo, que Fernando de Noronha, para ajudar o êxodo de numerosos judeus, comprava-lhes as propriedades que, de outro modo, teriam de perder.

Esses e outros indícios têm levado muitos historiadores a admitirem a origem judaica de Fernando de Noronha.

Que tenha ou não tenha sido Fernando de Noronha descendente de judeus, cristão-novo ou cripto-judeu, não envolve especial interesse. Importa antes a afirmativa, de consenso geral, de que, nas expedições comerciais do sindicato de Fernando de Noronha, judeus constituíam a maioria, cabendo-lhes assim o mérito de terem lançado no solo da nova pátria os primeiros marcos da civilização.

Autor: Marcelo Ghelman
Fonte: http://www.geocities.com/Athens/Forum/4720/livro10/l10cap3.htm