Fatos Gerais

Alimento versus calorias

Desde que a humanidade existe – pode recuar bastante, ao tempo do Australopitecus, por exemplo – que o organismo animal está adaptado à relação matemática existente entre alimentos e calorias. Todo mundo que tem um pingo de noções de nutrição conhece essa relação: 1 grama de carboidrato ou proteína equivale a 4 calorias e 1 grama de gordura equivale a 9 calorias. E sabe também que todo e qualquer alimento, glicídio, lipídio ou protídio, fornece a energia de que o corpo necessita. Quando o Australopitecus capturava um animal e o comia cru ou assado, ou um chinês, há cinco mil anos, comia uma tigela de arroz, o pâncreas deles sabia qual a quantidade de insulina que deveria produzir para aquela quantidade de comida. Uma espécie de calculadora biológica (nós não temos um relógio biológico?), combinada com uma espécie de sistema endócrino de injeção eletrônica preparado pela evolução das espécies, entrava em ação prontamente. O organismo lidava com um bolo de alimento que ao mesmo tempo nutria e fornecia energia.

Esse mecanismo biológico veio a ser perturbado depois da introdução do açúcar, ou melhor, da intromissão do açúcar na mesa da humanidade. Isso porque o açúcar não era um novo alimento que estava chegando à mesa, mas um produto químico, uma substância não nutritiva que apenas adicionava calorias aos alimentos, além de sabor doce. Calorias inúteis que se revelaram nocivas à saúde. O açucareiro deu uma cotovelada no pote de mel da mesa e se instalou como um adoçante com pretensões hegemônicas.

Com o advento do açúcar na mesa da humanidade o ser humano se viu diante de uma situação nova, para a qual seu organismo não estava preparado: a de lidar com um bolo de alimentos que quebrava aquela antiga relação alimento-caloria, com a qual estava acostumado desde seu avô Australopitecus. O açúcar adicionado à comida provoca reações complexas nos sistemas hormonais endócrino, parácrino e autócrino. Mas há quem pense diferente, o médico americano Barry Sears autor da Dieta da Zona, acha que os cereais é que são os responsáveis pelo conflito entre alimentos e funcionamento hormonal. Ele chega a lamentar a revolução agrícola, acontecida há dez mil anos, pela introdução dos grãos na dieta humana. E é completamente cego para o produto químico que caiu de pára-quedas na mesa da humanidade há apenas quinhentos anos. (14)

Com o açucaramento da dieta a calculadora biológica entrou em pane ao passar a lidar com um bolo de alimentos estranhamente “enriquecido” de calorias, o que demandava mais insulina. Conforme Arthur Guyton, o trânsito de glicose para o interior das células, quando o pâncreas secreta grandes quantidades de insulina, é dez ou mais vezes mais rápido que o normal.(15) A dieta açucarada criou uma situação de estresse permanente no metabolismo. Segundo a médica portuguesa Luísa Sagreira, a hiperinsulinemia é responsável por alterações lipídicas e das proteínas, aumento de VLDL-colesterol e de triglicerídeos, diminuição de HDL-colesterol, hipertensão arterial, possibilidade de se acompanhar de tolerância diminuida à glicose; e por último é responsável por uma mortalidade cardiovascular aumentada e prematura.(16) Desde que os europeus passaram a produzir açúcar aos milhares de sacos no Novo Mundo recém descoberto até os atuais 160 milhões de toneladas por ano, o açucaramento da dieta humana tem sido progressivo. E o doutor Atkins adverte: “Quanto mais açúcar você come mais anormal torna-se a resposta do organismo ao açúcar”.

Ante a dieta açucarada, o pâncreas reagia produzindo uma quantidade de insulina maior para fazer face às calorias extras, funcionava em ritmo de trabalho forçado e a insulina ajudava a transformar o açúcar extra em gordura, gerando obesidade e seus corolários mórbidos. A continuidade desse processo torna a insulina cada vez menos eficaz. Essa resistência insulínica provoca pane no próprio mecanismo de administração da insulina. O sistema hormonal endócrino funciona como uma orquestra, o glucagon, por exemplo, é o “contra-hormônio” da insulina. E a hipoglicemia causada pelo ação da insulina exagerada pela dieta açucarada leva o glucagon a entrar em ação com o objetivo oposto: aumentar o nível de açúcar do sangue. A glicogenólise e a gliconeogênese são estimuladas elevando a glicemia.

Perturbando o funcionamento do metabolismo, através da dieta açucarada, a revolução do açúcar inaugurou na história da humanidade a era das doenças crônicas, metabólicas e degenerativas – uma série de novas doenças não transmissíveis para as quais a medicina não estava preparada. Começando pelas cáries dentárias o açúcar abre caminho para o lento desenvolvimento dessas doenças num leque bem conhecido: sobrepeso, obesidade, hipertensão, diabetes e doenças cardiovasculares. Tais doenças são tão relacionadas entre si que a medicina já criou o conceito de Síndrome X ou plurimetabólica que empacota várias delas.

Resta à humanidade lutar contra essa situação patológica através do movimento Açúcar zero. Ele não defende nenhuma dieta nova, apenas recomenda que se elimine o açúcar da mesa. Quanto ao mais, cada um deve comer de acordo com suas inclinações, apetite, idade, sexo, trabalho, clima, geografia, cultura, etnia etc. Se for guloso será gordo, porém saudável. É o açúcar que gera doentes gordos ou magros. O movimento Açúcar zero pretende contrarrestar a ditadura do açúcar. É um saudável movimento de fuga da imposição da dieta açucarada.

Como um primeiro passo basta que você, que está lendo esse livro, por exemplo, pare de comer açúcar e além disso, ajude a causa tirando o doce da boca das crianças.

Sobre o texto acima:
O texto acima foi retirado do livro “O livro negro do açúcar”.

Titulo do Livro: O livro negro do açúcar

Subtitulo do Livro: Algumas verdades sobre a indústria da doença

Texto enviado às 15:33 – 13/01/2009

Autor do Livro: Fernando Antonio Carneiro de Carvalho

Fontes:
14 – SEARS, Barry. O Ponto Z, a dieta. Rio de Janeiro: Campus, 1997, p. 104.

15 – GUYTON, Arthur. Tratado de fisiologia médica. Rio de Janeiro: Guanabara, 1989, p. 642.

16 – SAGREIRA, Luísa. Dislipidemia. In: DUARTE, Rui. Diabetologia clínica. Lisboa: Lidel, 1997, p. 296.

Fonte Imagem:
http://200.242.43.143/portal/fcecon/noticia.php?xcod=5261

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